“Sabe como eu consegui estas cicatrizes? ”, esta fala que consagrou Heath Ledger com a atuação de Coringa remete muito bem ao ponto mais marcante deste personagem que já é clássico no n
osso imaginário: seu sorriso insano. Mas, porque (ou de onde) o Coringa de Batman ganhou esta característica?
Para achar esta resposta precisamos viajar um pouquinho na máquina do tempo para a primeira adaptação norte-americana da obra de Victor Hugo “L’homme que rit”, feita no ano de 1928, dirigida por Paul Leni e interpretado por Conrad Veidt.
L’homme que rit foi escrito por Victor Hugo em 1869, durante o período em que ele estava exilado, em reprimenda às críticas aos aristocratas presente em suas obras anteriores, como “Les Miserábles” e “Notre Dame de Paris”.
A trama conta a história de Gwynplaine, filho de Lord Clancharlie que é assassinado por seu rival político o rei inglês James II. Para vingar-se de Clancharlie, o monarca vende a criança para um grupo de ciganos. Lá a Gwynplaine acaba nas mãos do Dr. Hardquanonne, que deforma a sua boca para que ele se transforme numa atração de circo.
O “doutor” corta os cantos da boca do jovem Gwynplaine, forçando-o a carregar um sorriso no rosto para que ele “desse risada sobre o seu pai tolo”. No entanto, após um tempo os ciganos são expulsos da Inglaterra e o jovem é deixado para trás.
Em meio ao abandono ele encontra um bebê cego, Dea e Ursus, que os acolhe num tipo de circo dos horrores, onde Gwynplaine recebe o nome de Homem Que Ri (calma que piora). Com o passar dos anos, Gwynplaine se apaixona por Dea, mas ele se recusa a pedir sua mão pois se considera inapropriado por conta do seu sorriso desfigurado.
A história escrita por Victor Hugo é carregada de realismo e críticas sociais, representado pelas misérias e sofrimentos que Gwynplaine passa ao longo de sua vida. Ao passo que a versão cinematográfica de 1928 narra a história do personagem como um melodrama, mostrando o lado cruel da natureza humana.
O melodrama fica ainda mais carregado justamente porque o jovem Gwynplaine é obrigado a carregar o sorriso (ainda que desfigurado) no rosto apesar de todo o sofrimento que ele passa. Mas diferente da versão mais recente do Coringa, interpretado por Joaquin Phoenix, sua dor não faz com que ele se torne insano (ufa, o alívio).
E a atuação de Conrad Veidt no filme de 1928 foi muito marcante devido a sua caracterização, o ator atuava usando uma prótese que forçava os cantos da boca a fim de manter o formato do sorriso bizarro. Esta caracterização fez com que o personagem fosse um dos mais memoráveis do cinema mudo.
Subamos na nossa máquina do tempo agora para uma viagem até a década de 40, onde três artistas da Detective Comics (DC para os mais íntimos), Jerry Robinson, Bill Finger e
Bob Kane estão escrevendo as primeiras páginas de Batman, para sua primeira edição dedicada.
Durante o processo de criação, Jerry mostrou a Bill uma carta de baralho com o Coringa e uma fotografia de Conrad Veidt, caracterizado como “L’homme que rit”, dizendo “Aqui está o Coringa”. Daí veio a inspiração do sorriso gigantesco mostrando todos os dentes, o cabelo jogado para trás e as roupas circenses.
Além da aparência, a ambientação de “L’homme que rit” também pode ser relacionada com o vilão que conhecemos hoje, carregado de dor e histórias sombrias, mostrando um personagem perturbado. E estas características podem ser observadas até hoje em adaptações mais recentes do vilão célebre da DC nos cinemas.
Uma última informação curiosa, inicialmente a intenção dos autores era somente apresentar o vilão nesta primeira edição dos quadrinhos e finalizar sua história ali, contudo, ele fascinou o público de tal maneira que até hoje ele fascina e permanece na mente de leitores e cinéfilos.
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